De acordo com as normas do crematório, não é permitido que os familiares assistam à cremação. Adriana Guerreiro, no entanto, pagou um valor considerável e, segurando com força o gélido leito de ferro, adentrou a sala de incineração.

O ar era pesado, carregado com o cheiro de queimado e cinzas que flutuavam suavemente sob a luz do sol.

Talvez fossem cinzas humanas.

Em breve, sua querida filha também se tornaria assim.

Adriana, envolta em um vestido preto longo que mal escondia sua figura delicada, estava com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, mas, naquele instante, pareciam estranhamente calmos.

Ela estendeu a mão, tocando os dedos pálidos e rígidos cobertos por um lençol branco. Com cuidado, começou a rezar olhando para o corpo inerte da filha.

"Estela, espere por mim."

Havia chegado a hora.

Um funcionário aproximou-se, afastando Adriana delicadamente, e revelou o rosto de Estela por baixo do lençol.

Ela tinha apenas oito anos, mas era tão magra e frágil que suas costelas estavam visivelmente marcadas, criando uma depressão sob elas.

Ao ver essa imagem, as lágrimas de Adriana voltaram a fluir.

Ela havia falhado. Não havia protegido sua Estela!

Um funcionário, em voz baixa, tentou consolar: "Meus pêsames, senhora. Pelo menos, o rim de sua filha salvou a vida de outra criança, que viverá feliz por ela.'

Um brilho frio passou pelos olhos de Adriana, que soltou uma risada sarcástica.

"Ah, claro. Esse menino é o filho bastardo do meu marido. Agora, eles estão comemorando o aniversário dele com pompa e festa, sabia? Hoje também é o aniversário da minha filha."

O funcionário ficou sem palavras, sem saber como consolar aquela mulher desesperada.

Adriana olhou para Estela mais uma vez, forçando um sorriso trêmulo: "Queime... não prolongue isso. Espero que minha filha encontre uma família melhor na próxima vida.

O funcionário suspirou em silêncio, balançando a cabeça enquanto levava o pequeno corpo para o forno crematório.

Talvez por empatia, ele tenha escondido parte do processo.

Mas a Adriana não estava com medo, porque sabia que a Estela estaria livre.

Livre do desprezo diário de seu pai.

"Mamãe, por que papai não gosta de mim?"

"Mamãe, por que papai gosta tanto do filho da tia Eunice?"

"Mamãe, é por minha causa que papai não gosta de você? Me perdoe, mamãe."

Sua filha tão boa!

Tinha sido morta por Jaques Torres!

Ele havia prometido levar Estela ao maior parque de diversões na véspera de seu aniversário, realizando seu maior desejo: passar um tempo a sós com o pai.

Porém, mudou os planos e a levou para a sala de cirurgia, onde ela doaria um rim ao irmão. No fim,

Estela foi abandonada à própria sorte, morrendo sozinha, vítima de uma infecção, na cama do hospital. E Adriana, a mãe, foi a última a saber!

Ela jamais esqueceria o momento em que entrou no quarto do hospital e encontrou o corpo frio e rígido de sua filha.

Ao lado, um pequeno relógio infantil, manchado de sangue, que parecia tão fora de lugar... um objeto frágil tentando, inutilmente, alcançar o pai.

Depois de atender, apenas uma frase foi ouvida:

"Não seja tão louca quanto sua mãe."

Tu-tu-tu...

Ouvindo o tom de ocupado, Adriana engoliu as lágrimas e abraçou a filha, temendo que seu desespero a assustasse.

Desde que Eunice Amaral retornara ao país acusando Adriana de persegui-la, bem como a seu filho, Jaques a rotulou como uma lunática diante de todos.

Particularmente, após ouvir o relato de Eunice sobre ter dado à luz, no exterior, a um bebê prematuro com problemas renais, o olhar de Jaques - aquele homem tão nobre e elegante, ao encarar mãe e filha revelava uma frieza implacável.

Sem considerar suas explicações, ele amaldiçoou: "Adriana, você prejudicou a Eunice e meu filho. Eu farei você pagar o dobro."

Jaques cumpriu sua promessa. E tudo parecia ter chegado ao fim.

Quando Adriana voltou à realidade, segurava uma urna rosa nas mãos.

Estela gostava de rosa.

Ela abraçou a urna: "Estela, vamos para casa."

O vento soprou, levantando a barra do vestido preto da mulher, mas, sob a luz do sol, sua figura parecia ainda mais solitária e melancólica.

De volta ao apartamento que dividia com Jaques, Adriana começou a arrumar as coisas de Estela.

Depois, sentou-se no sofá com a urna nos braços, ficando ali até o crepúsculo.

O som de um carro chegou do lado de fora.

Logo depois, uma figura masculina, firme e imponente, cruzou a porta.

Era Jaques.

Oito anos haviam se passado, mas ele ainda exalava a mesma aura perigosa e sofisticada do dia em que se conheceram.

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