Através de montanhas e mares para a abraçar
Capítulo 64

Na sala de aula, assim que Otilia entrou, todos os olhares voltaram-se automaticamente para ela, carregando um desprezo e aversão nada disfarçados.

"Gravidez, aborto, que nojo."

O passo de Otilia hesitou, ela virou a cabeça, olhando de cima para baixo para Tatiane Cabral.

Tatiane, assustada, aproximou-se da colega de mesa, olhando para ela com cautela: "O que você quer fazer?"

"Se a sua boca continuar suja, não vou resistir a limpar ela para você."

Tatiane fechou a boca.

Um olhar frio percorreu a sala: "O mesmo vale para vocês."

"Bang"...

Uma cadeira caiu com um estrondo.

Depois do barulho, seguiu-se um breve silêncio na sala de aula.

Ninguém ousava fazer barulho.

Otilia puxou uma cadeira, sentou-se, e com tranquilidade retirou o livro didático da gaveta, começando a resolver os exercícios com seriedade.

Os murmúrios e fofocas externas não tinham o menor efeito sobre ela.

Ela já tinha ouvido demais sobre fofocas e insultos na sua vida anterior. O dano causado por essas palavras já havia sido suficientemente suportado por ela no passado.

Ela já havia construído uma fortaleza em torno de si.

Por que ela se importaria nesta vida?

Faustino e alguns amigos cercavam Willian ao entrar na sala de aula, apenas para ver todos com a cabeça baixa mexendo nos seus telefones, exceto por uma pessoa em um canto, absorta em sua leitura. "Irmão Willian, você acha que ela é louca? As coisas na rede da escola já se espalharam por todo o colégio, como ela ainda consegue se concentrar nos estudos?"

Faustino não sabia se a admirava ou se achava que ela era desapegada demais.

"William, você acha que o que dizem na internet é verdade?" perguntou Henoch.

Willian lançou-lhes um olhar desdenhoso.

"Idiotas."

Faustino e Henoch se olharam confusos.

Vendo a estupidez deles, Willian se irritou.

Chutou todos para longe, e com passos largos, passou por trás de Otilia, deitando-se e apoiando a cabeça na mochila.

Ele inclinou a cabeça, seus olhos escuros fixos nela.

Enquanto olhava, acabou por adormecer.

Otilia lançou-lhe um olhar de relance, antes de voltar ao seu livro.

Na parte da tarde, dois homens de ternos impecáveis e postura ereta, com uma aura elegante, entraram no prédio com pastas em mãos.

Verificaram o número na porta e, sem erro, o assistente bateu.

A professora olhou para eles com curiosidade.

"Quem vocês estão procurando?"

"Olá, somos do Escritório de advocacia Xindia, Advogado Ygor. Estamos procurando a estudante Hilda, ela está?" O líder dos homens, educadamente, perguntou.

Todos na sala viraram os olhares para Hilda.

Hilda, confusa, olhou para os dois advogados, sem reconhecê-los.

"Ela está aqui. Hilda, pode sair um momento?" a professora falou.

Com um olhar confuso, Hilda se levantou e saiu da sala.

A curiosidade reinava entre os estudantes, que se perguntavam por que advogados estariam procurando por ela, distraindo-se das aulas e prestando atenção.

"Olá, estudante Hilda. Sou o advogado representante da senhorita Otilia. Quanto à disseminação de rumores sobre ela na internet, acusando-a de difamação e calúnia... já iniciamos os procedimentos judiciais. Estamos aqui para notificá-la tanto por documentos quanto verbalmente."

A voz do advogado não era alta, mas no corredor silencioso e vazio, permitia que os estudantes das salas ao redor ouvissem claramente.

"O que você disse?" Hilda arregalou os olhos.

Ela nunca imaginou que Otilia tomaria medidas legais contra ela.

Ela já tinha feito isso antes, e tudo acabava sempre em nada.

Quem diabos contrataria um advogado e levaria a questão para a justiça?

Essa ação deixou Hilda confusa, e até mesmo os estudantes que ouviam às escondidas ficaram perplexos.

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