Sua mãe já estava com tanta dor que não conseguia mais falar. Seus lábios se moviam lentamente, mas Anabela conseguia ler o que ela estava dizendo.

Ela disse "Sinto muito..."

Em um instante, Anabela começou a chorar e, em um impulso desesperado, correu para fora,

mergulhando no vento e na chuva que caiam com força.

"Mamãe! Mamãe, não vá embora..."

A ambulância, lutando contra o tempo, saiu rapidamente sem esperar por Anabela, partindo em alta velocidade.

Anabela correu atrás da ambulância por um tempo, até que o veículo branco que levava sua mãe desapareceu de sua vista e, então, parou.

Naquela noite, Isabella deixou este mundo.

Leonardo ficou ao lado dela a noite toda, chorando inconsolavelmente.

Anabela não sabia dessas coisas.

Ela não conseguiu alcançar a ambulância e acabou caindo na chuva, sendo resgatada pela empregada, que a levou de volta para casa, preocupada.

Naquela noite, Anabela teve febre alta e, em seus sonhos, continuava chamando pela "mamãe", chorando intermitentemente durante toda a noite.

Quando acordou no dia seguinte, recebeu a notícia de que sua mãe havia falecido.

Anabela não teve coragem de ir ao hospital para ver sua mãe pela última vez, temendo a visão de seu corpo sem vida.

Durante esse período, ela se enganou pensando que, enquanto não visse o corpo de sua mãe, ela ainda estaria viva, apenas viajando para algum lugar distante.

No coração de Anabela, aquela mulher gentil, sempre sorridente e radiante como a luz da primavera, viveria para sempre.

Após a partida de Isabella, Anabela passou dias e noites abraçada àquele boneco de cerâmica, sem comer ou beber, dormindo quando estava exausta e chorando silenciosamente quando acordava. Leonardo parecia ter envelhecido dez anos da noite para o dia. Seus olhos perderam o brilho e seus cabelos ficaram grisalhos. Ele não tinha mais energia para cuidar de sua filha.

Mais tarde, Leonardo chegou a ser diagnosticado com depressão.

Anabela passou a acreditar que Leonardo jamais se casaria novamente. Afinal, se ele amava tanto sua mãe, como poderia haver espaço em seu coração para outra mulher?

Mas dois anos depois, Leonardo se casou com a melhor amiga de sua mãe.

Ela fez um escândalo na hora, e naquele mesmo dia se mudou para o dormitório da universidade.

Mesmo nas férias de inverno e verão, quando voltava para casa, ficava sozinha no quarto, sem falar com ninguém.

Nos dois últimos anos da faculdade, a relação dela com Leonardo finalmente começou a melhorar, mas assim que se formou, Leonardo insistiu para que ela se casasse com alguém da família Duque. Isso só piorou ainda mais a já frágil relação entre pai e filha.

Leonardo provavelmente ficou realmente irritado. Normalmente, ele atendia todos os desejos de Anabela, mas quando se tratou do casamento arranjado, ele foi inflexível, chegando ao ponto de bloquear o cartão dela para forçá-la a voltar para casa.

Para Anabela, o casamento arranjado foi apenas a gota d'água que fez transbordar o copo.

O principal motivo pelo qual ela fugiu de casa foi o novo casamento de Leonardo.

Ele traiu sua mãe.

Anabela ainda achava que Leonardo queria que ela se casasse logo após a faculdade para expulsá-la de

casa - a família Amaral não tinha mais lugar para ela.

Então, ela saiu de casa, e essa fuga durou três anos.

Ela sempre mantinha aquele boneco de cerâmica com ela.

Era seu refúgio emocional, o último presente de sua mãe, e seu bem mais precioso.

Mas naquele momento ele estava quebrado.

O coração de Anabela também estava em pedaços.

Depois de chorar bastante, Anabela começou a pensar em maneiras de reparar os danos.

Se ela conseguisse encontrar um restaurador de primeira linha, talvez houvesse esperança de consertar o boneco.

Ela tirou uma foto dos pedaços quebrados e a publicou no Facebook.

[Procurando um(a) restaurador(a) experiente.]

Anabela era bem relacionada na Vila Serena do Vale, com parentes influentes e amigos de famílias poderosas, por isso encontrar um restaurador não deveria ser difícil.

Alguns minutos após a postagem, a ligação de Leonel tocou.

Anabela pensou que ele queria recomendar um restaurador, então atendeu a ligação imediatamente.

A voz de Leonel parecia preocupada e ansiosa: "Anabela, você está machucada?"

Anabela ficou atônita por um momento, mas logo percebeu que não havia limpado o sangue das peças de cerâmica.

"Não. Não era... meu sangue."

Leonel perguntou novamente: "O que aconteceu? Como se quebrou o boneco de cerâmica que a Sra. Oliveira lhe deu?"

Anabela permaneceu em silêncio.

Ela não sabia por onde começar.

O que a surpreendeu ainda mais foi que Leonel, só de olhar para os cacos, sabia que se tratava do boneco de cerâmica que sua mãe havia lhe dado.

Momentos depois, a voz do homem soou com determinação inquestionável: "Estou indo para o aeroporto agora. Espere por mim, eu irei à Cidade das Araucárias para vê-la."

Você gosta deste site? Faça uma doação aqui:
Seu apoio nos ajuda a criar capítulos rápidos e de qualidade!
Dica: Você pode usar as teclas de seta para esquerda e direita do teclado para navegar entre os capítulos.Toque no meio da tela para revelar as Opções de Leitura.

Se encontrar algum erro (conteúdo não padrão, redirecionamento de anúncios, links quebrados, etc..), por favor, avise-nos para que possamos corrigi-lo o mais rápido possível.

Relatório